Matando as Saudades
O céu chorava. A chuva fina desenhava rios na janela do pequeno apartamento onde Henrique vivia, sozinho, desde que perdera tudo. Tudo, menos o amor inquebrantável pelo filho.
Os anos passaram como folhas ao vento, arrastando lembranças e impondo um silêncio doloroso. Ele havia tentado. Tentado encontrar, tentado explicar, tentado resistir às mentiras que os separaram. Mas Isadora, mulher de olhos sombrios e palavras envenenadas, criara muros altos entre ele e Rafael.
Entretanto, o destino tem sua própria lógica. E naquela tarde de outono, com o cheiro da terra molhada impregnando o ar, seu telefone vibrou.
"Pai?"
O mundo parou.
Henrique mal conseguia respirar. O som daquela única palavra atravessou seus ossos como um trovão silencioso.
Eles marcaram um encontro no parque onde, anos antes, ele havia ensinado Rafael a andar de bicicleta. E quando seus olhos finalmente se encontraram, foi como se o tempo não tivesse passado.
Não havia mágoa ali. Apenas amor.
O abraço durou uma eternidade. Henrique sentiu o cheiro do filho, ouviu o coração acelerado, percebeu o peso de cada momento roubado. Rafael chorava, apertando o pai como se temesse que ele desaparecesse novamente.
"Ela mentiu pra mim…" Rafael sussurrou, entre soluços. "Disse que você não queria me ver, que me esqueceu."
Henrique fechou os olhos, segurando a dor que ainda ardia em seu peito.
"Eu nunca esqueci você, meu filho. Nunca."
Naquele instante, o tempo começou a se reconstruir. A dor ainda existia, mas não mais como uma barreira. E quando finalmente se afastaram daquele abraço que valia uma vida, havia um pacto selado sem palavras: nunca mais se perderiam.
A chuva cessou. O céu abriu espaço para um sol tímido. Como se o próprio universo tivesse esperado aquele reencontro para respirar aliviado.
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