Resgate da história dos Lanceiros Negros | Revolução Farroupilha | Massacre de Porongos

Resgate da história dos Lanceiros Negros

Que Não Nos Esqueçamos Quem São Nossos Verdadeiros Heróis (REVOLUÇÃO FARROUPILHA): A História Omitida dos Lanceiros Negros

Resgate da história dos Lanceiros Negros

Que Não Nos Esqueçamos Quem São Nossos Verdadeiros Heróis (REVOLIUÇÃO FARROUPILHA): A História Omitida dos Lanceiros Negros



A data de 20 de setembro, celebrada como o Dia do Gaúcho, tradicionalmente exalta a Revolução Farroupilha (1835-1845). No entanto, a narrativa dominante, perpetuada pelas elites, frequentemente omite os capítulos mais cruciais e trágicos dessa história. O sistema tem interesse em apagar a memória dos verdadeiros heróis, aqueles que lutaram não por interesses econômicos, mas pelo direito fundamental à liberdade. Resgatar a memória coletiva é um ato político: é através dela que construímos identidade, entendemos nosso lugar no mundo e honramos aqueles que foram apagados pela história oficial.

Desconstruindo a Figura do Gaúcho

Antes de mergulharmos na revolução, é essencial resgatar a verdadeira origem da figura do gaúcho. A imagem tradicionalmente difundida é a de um homem branco, burguês e patronal. Essa visão, no entanto, é uma apropriação cultural e uma distorção histórica.

O gaúcho original, que dá nome à nossa identidade, era o pobre, o mestiço, o sem-terra, o marginalizado que vivia nos pampas sul-americanos. Era um sujeito de forte herança cultural ameríndia (Guarani, Charrua, Minuano, Kaingang) que vivia à margem da ordem colonial imposta violentamente pelos europeus. Expulsos de suas terras, onde viviam em liberdade e coletivamente, tornaram-se "homens sem pátria", temidos pelos estancieiros. Fazer memória a essa identidade livre e rebelde é honrar nossas verdadeiras origens e resgatar a importância fundamental dos povos negro e indígena na formação do povo gaúcho.

A Revolução Farroupilha e a Promessa de Liberdade

De 1835 a 1845, estancieiros rio-grandenses, por divergências econômicas e políticas com o Império, iniciaram uma guerra. Porém, quem peleou e morreu nos campos de batalha foi o povo: os gaúchos pobres, indígenas e, crucialmente, negros escravizados.

Dentre estes, destacaram-se os Lanceiros Negros, um corpo de combatentes formado por escravizados recrutados das estâncias. Eles lutaram com extrema bravura ao lado dos farrapos por dez anos, protegendo-se apenas com seus ponchos de lã. Sua motivação era única e poderosa: a promessa de que, ao final da guerra, receberiam sua alforria e a tão sonhada liberdade.

A Covardia do Massacre de Porongos

O final da guerra, porém, revelou a verdadeira face dos líderes farroupilhas. Em 1845, farrapos e imperiais preparavam-se para assinar o Tratado de Poncho Verde. O principal impasse era justamente a libertação dos Lanceiros Negros. O Império não aceitava a condição e exigia que retornassem à condição de escravos.

A "solução" para este impasse foi uma das maiores traições da história do Brasil: o Massacre de Porongos, em 14 de novembro de 1844.

Combinada entre o líder farroupilha David Canabarro e o comandante imperial Duque de Caxias, uma emboscada foi armada. As tropas de Lanceiros Negros foram intencionalmente desarmadas e isoladas no Cerro de Porongos. À noite, foram surpreendidos e atacados covardemente pelas forças imperiais. Centenas de lanceiros foram brutalmente massacrados. Os sobreviventes foram escravizados novamente.

Com o "problema" dos lanceiros eliminado, o tratado de paz foi assinado, e a "paz" da sociedade escravocrata foi restabelecida sobre o sangue daqueles que mais lutaram por liberdade.

Nossos Verdadeiros Heróis

Portanto, os chamados "heróis" farroupilhas da história oficial são, na verdade, covardes e traidores. O 20 de Setembro não pode ser a celebração de uma guerra escravagista, mas sim um dia de memória e luta.

Há mais de 500 anos, os povos negro e indígena resistem neste país. É sobre nosso sangue e suor que a tal "civilização" foi erguida. A perseguição e o extermínio são um projeto de Estado que perdura há séculos.

A verdadeira lição de Porongos é clara: não devemos confiar na promessa dos opressores. Nossa libertação depende única e exclusivamente de nossa própria organização, luta e resistência.

Nossos heróis não têm estátuas nas praças dos coronéis. Eles morreram lutando contra os que as têm.

Salve os Lanceiros Negros! Presentes hoje e sempre na história do povo Gaúcho!

Conclusão

Resgatar a memória dos Lanceiros Negros é um compromisso com a verdade histórica e com a luta de um povo que foi traído, silenciado e apagado pela narrativa oficial. Não podemos aceitar que o 20 de setembro seja apenas a exaltação de uma guerra que manteve a lógica escravocrata. Deve ser, antes de tudo, um momento de reflexão, denúncia e homenagem àqueles que lutaram pela liberdade. Lembrar Porongos é compreender que a justiça social não nasce das promessas das elites, mas da resistência coletiva dos oprimidos. Os Lanceiros Negros seguem vivos na memória do povo, e sua coragem nos inspira a seguir lutando por dignidade, igualdade e verdadeira liberdade.


Fontes e Validação Histórica

A interpretação apresentada é baseada em fatos históricos amplamente documentados. Abaixo, as principais confirmações:

Existência e Importância dos Lanceiros Negros:

FREITAS, Décio. A Revolução Farroupilha. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.

Reportagem: "Massacre de Porongos: o que aconteceu na noite em que lanceiros negros foram traídos e chacinados". Zero Hora, 14 de novembro de 2020.

O Massacre de Porongos e a Traição:

Documento histórico: Carta do Duque de Caxias, de 18 de novembro de 1844.

SILVA, Lúcia Helena Oliveira. Porongos: uma traição anunciada? In: Anais do Simpósio Nacional de História, 2015.

A Identidade Mestiça do Gaúcho Original:

LAYTANO, Dante de. O Negro e o Gaúcho. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1986.

Consulta adicional para perspectiva política e militante:

Federação Anarquista Gaúcha. "Que não nos esqueçamos quem são nossos verdadeiros heróis!" Disponível em: https://www.federacaoanarquista.com.br/que-nao-nos-esquecamos-quem-sao-nossos-verdadeiros-herois/

Cabana Anarquista. "20 Setembro: Viva Lanceiros Negros! Não reivindicamos essa guerra escravagista, mas a luta por liberdade!" Disponível em: https://cabanarquista.com.br/20-setembro-viva-lanceiros-negros-nao-reivindicamos-essa-guerra-escravagista-mas-a-luta-por-liberdade/

Cabana Anarquista. Memória. Disponível em: https://cabanarquista.com.br/category/memoria/


Por Fábio Wlademir - 19/09/2025.

Facebook: https://www.facebook.com/fabiowlademirRS/
Instagram: https://www.instagram.com/fabiowlademirrs/
...............




SITE / BLOG - SEM FINS LUCRATIVOS !
http://f2poesias.blogspot.com.br/
Wlademir
Wlademir

Quem somos!Somos um grupo de voluntários, ciberativistas (usamos a internet para fazer o bem) Nos dedicamos a trazer os melhores conteúdos para você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva aqui seu comentário, sugestão, crítica, elegio, pedido.

Pesquisar este blog

Mais visitadas Última semana